Lição 1: Treine o cérebro a poupar

Literacia FinanceiraArticle2 de abril de 2025

Poupar não tem de parecer um sacrifício. Poupar pode ser desafiante porque os nossos cérebros procuram satisfação instantânea.

Esta lição revela como ultrapassar esses instintos utilizando truques psicológicos para que poupar também seja recompensador. Explore estratégias para definir e atingir os seus objetivos financeiros, criar poupanças robustas e proteger a sua família de despesas inesperadas.

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Muitas famílias dependem do dinheiro que sobra depois de pagar as despesas. Mas esta "poupança residual" nem sempre é suficiente em tempos difíceis.

O ideal é poupar três a seis meses de despesas como rede de segurança financeira para fazer face a custos inesperados ou perda de rendimento. No entanto, poucas famílias têm a almofada financeira adequada. Perda de emprego, uma emergência médica ou uma grande reparação doméstica, são encargos que podem rapidamente tornar-se pesados.

Em média, em vários países, cerca de dois terços dos agregados familiares têm menos de três meses de poupanças, o que deixa muitos vulneráveis a despesas inesperadas, como a perda de emprego, emergências médicas ou reparações urgentes em casa.

Poupar dinheiro não é fácil. Exige esforço deliberado e planear a longo prazo necessidades financeiras futuras, que são incertas.

Muitas vezes, parece um castigo, pois restringimos os nossos gastos e prazeres imediatos. Isto cria uma perceção negativa da poupança. Enquanto o esforço de acumular riqueza para o futuro é algo que não vemos, a perda de poder de compra é sentida de imediato.

Poupar parece um sacrifício – abdicar de parte do poder de compra de hoje por um benefício futuro que não podemos ainda ver. Este parece ser um sacrifício pesado, levando muitas pessoas a evitar poupar por completo. Por outro lado, gastar satisfaz os nossos impulsos e necessidades atuais. É um comportamento mais automático e natural – se queremos algo, compramos.

Ao gastar, focamo-nos no presente. Requer pouco planeamento. Comprar algo que queremos agora, traz gratificação e satisfação imediata.

Por exemplo, comprar um vestido ou um par de sapatos é uma decisão quase automática. Vamos à loja, escolhemos o artigo, fazemos a compra e recebemos uma recompensa instantânea. Em contraste, poupar para o mesmo artigo exige paciência e contenção, adiando a recompensa.

Enquanto gastar proporciona satisfação imediata, poupar parece um processo mais lento e incerto – um sacrifício por benefícios futuros. Além disso, quando se trata de poupar, muitos de nós caímos numa armadilha sem perceber: o excesso de otimismo. Sabemos que devemos reservar dinheiro para o futuro, mas o modo como pensamos sobre a nossa situação financeira futura é frequentemente afetado por esta confiança excessiva, levando-nos a gastar mais e a adiar ou evitar poupar por completo. Tendemos a ser excessivamente otimistas sobre os nossos rendimentos, despesas ou oportunidades futuras.

Já todos passámos por isso – dizemos a nós mesmos que, embora poupar possa ser difícil agora, será muito mais fácil no futuro quando estivermos a ganhar mais dinheiro. Esperamos por uma promoção no trabalho ou assumimos que a nossa carreira progredirá naturalmente, com salários mais elevados e mais rendimento disponível.

Da mesma forma, tendemos a minimizar a probabilidade de desafios financeiros futuros. Imaginamos um futuro tranquilo, onde despesas inesperadas, inflação crescente ou perda de emprego são improváveis de nos acontecer a nós. Por fim, este otimismo excessivo pode manifestar-se na crença de que, em algum ponto, coisas boas virão, permitindo-nos atingir os nossos objetivos de poupança de uma vez só.

Mas a vida raramente se desenrola como imaginamos. Promoções e aumentos podem não aparecer tão rapidamente quanto esperamos, e eventos da vida, como o casamento ou ter filhos, podem aumentar as despesas, e circunstâncias imprevistas como contas médicas, reparações na casa ou uma perda súbita de rendimentos podem pressionar significativamente as finanças.

Expectativas otimistas levam a uma forma de confiança excessiva que, em vez de nos ajudar a construir uma reserva de poupança para despesas inesperadas, resulta em gastar mais livremente. Dizemos a nós mesmos que "vamos compensar" mais tarde quando as condições melhorarem. Como resultado, poupar é adiado, e quanto mais esperamos, mais difícil se torna construir uma almofada financeira sólida. Apesar de ser natural sentir-se otimista sobre o futuro, é essencial equilibrar esse otimismo com uma dose de realismo. Em vez de assumir que ganhará mais, gastará menos ou encontrará uma oportunidade de sorte, é melhor tomar medidas deliberadas para poupar agora.

Planear, poupar e manter o compromisso é um desafio constante. Temos de adotar uma perspetiva de futuro e resistir à gratificação imediata. Mas há um método que nos pode ajudar a mantermo-nos no rumo certo.

Muitas vezes, sentimo-nos sobrecarregados com o valor total que precisamos de poupar para alcançar nossos objetivos. Por exemplo, poupar 1.500€ para fazer melhorias em casa pode parecer assustador. E porque é que isso acontece? Muitas vezes adotamos uma perspetiva acumulativa, ou "modo de poupança", onde partimos do zero e vamos somando até à nossa meta. Inicialmente, pode ser encorajador ver o número a crescer, mas pagar 100€ por mês e chegar aos 500€ após cinco meses pode não parecer significativo. Isso pode fazer-nos perder o foco no objetivo final de 1.500€, levando ao desânimo e à desistência.

Pode ser mais eficaz adotar uma abordagem de diminuição, ou "modo dívida", em que começamos nos 1.500€ e vamos deduzindo até ao zero. Pense em poupar como se pagasse uma dívida de 1.500€: em vez de acumular, reduz progressivamente uma "dívida" substancial. Por exemplo, ao pagar 100€ por mês, passa de -1.500€ para -1.000€ após cinco meses. Pode não parecer muito, mas como a dívida restante ainda parece significativa, mantemo-nos motivados a eliminá-la!

Há dois aspetos psicológicos fundamentais em jogo no "modo dívida" que faltam no "modo poupança":

1. Não contamos com dinheiro que já "perdemos"

O dinheiro que estamos a poupar já está gasto ou perdido, tornando mais fácil colocá-lo de lado. Quando pensamos no dinheiro como já "perdido" (como é necessário para pagar uma dívida), já não dependemos dele para necessidades imediatas, reduzindo a sensação de sacrifício. Podemos até sentir-nos mais recompensados por pagar uma dívida "aparente".

2. Concentramo-nos no objetivo final em vez do saldo atual

Podemos perder de vista o montante total que pretendemos poupar, à medida que nos concentramos no saldo atual. Se o saldo já for considerável, podemos sentir-nos tentados a deixar de poupar. Em contraste, ao pagar a dívida, o nosso cérebro está mais focado no valor total devido. Esse foco no objetivo final ajuda a manter uma motivação consistente e não desanimar com o progresso lento.